quarta-feira, 16 de maio de 2007

DIA DE MERDA

Acha seu dia às vezes difícil?
Então leia este fato verídico!
Aeroporto Santos Dumont, 15:30.
Senti um pequeno mal-estar causado por uma cólica
intestinal, mas nada que
uma urinada ou uma barrigada não aliviasse. Mas,
atrasado para chegar ao
ônibus que me levaria para o Galeão, de onde
partiria o vôo para Miami,
resolvi segurar as pontas.
Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão.
"Chegando lá, tenho tempo
de sobra para dar aquela mijadinha esperta,
tranqüilo, o avião só sairía às
16:30".
Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira
contração e tomei
consciência de que minha gravidez fecal chegara ao
nono mês e que faria um
parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do
aeroporto.
Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil
falei:
"Cara, mal posso esperar para chegar na merda do
aeroporto porque preciso
largar um barro."
"Nesse momento, senti um urubu beliscando minha
cueca, mas botei a força de
vontade para trabalhar e segurei a
onda."
O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu
desespero, uma voz
disse pelo alto falante: "Senhoras e senhores, nossa
viagem entre os dois
aeroportos levará em torno de 1 hora, devido a obras
na pista.
"Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer
custo. Fiz um esforço
hercúleo para segurar o trem merda que estava para
chegar na estação anus a
qualquer momento.
Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo
que era, aproveitou
para tirar um sarro.
O alívio provisório veio em forma de bolhas
estomacais, indicando que pelo
menos por enquanto as coisas tinham se
acomodado.
Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia
pensar em um banheiro, não
com uma privada, mas com um vaso sanitário tão
branco e tão limpo que
alguém
poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico
então: branco e macio,
com textura e perfume e, ops, senti um volume
almofadado entre meu traseiro
e o assento do ônibus e percebi, consternado, que
havia cagado. Um cocô
sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao
seu autor. Daqueles
que
dá vontade de ligar pros amigos e parentes e
convidá-los a apreciar na
privada.
Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas
sem dúvida, a situação
tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um
pouco de piedade, e
confessei sério: "Cara, caguei!"
Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos
depois,
Aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob
controle.
"Que se dane, me limpo no aeroporto", pensei. "Pior
que isso não fico".
Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou
forte. Arregalei os
olhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e
sem muita cerimônia ou
anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez,
como uma pasta morna.
Foi merda para tudo que é lado, borrando,
esquentando e
Melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas,
panturrilha, calças, meias
e pés.
E mais uma cólica anunciando mais merda, agora
líqüida, das que queimam o
fiofó do freguês ao sair rumo a
liberdade.
E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei
segurar.
Afinal de contas, o que era um peidinho para quem já
estava
Todo cagado...
Já o peido seguinte, foi do tipo que
pesa.
E me caguei pela quarta vez.
Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta
caganeira que resolveu
botar modess na cueca, mas colocou as linhas
adesivas viradas para cima e
quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo
junto.
Mas era tarde demais para tal artifício absorvente.
Tinha menstruado tanta
merda que nem uma bomba de
cisterna
Poderia me ajudar a limpar a
sujeirada.
Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado
com
Passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que
apanhasse minha mala no
bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do
aeroporto para que eu
pudesse trocar de roupas.
Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe,
constatei falta de papel
higiênico em todos os cinco. Olhei para cima e
blasfemei: "Agora chega,
né?"
Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa
toda para analisar minha situação (que concluí como sendo o fundo do poço)
esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela
uma lufada de dignidade no meu dia.
Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito
o "check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o
cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto
e
minha parte. "Ele tinha despachado a mala com roupas". Na mala de mão só
tinha um pulôver de gola "V".
A temperatura em Miami era de aproximadamente 35
graus.
Desesperado comecei a analisar quais de minhas
roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis.
Minha cueca, joguei no lixo. A camisa era história.
As calças estavam deploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor
tingidas pela merda.
Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1a 10.
Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade, então transformei
ma
simples privada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do lado
avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na
água.
Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se
desprendeu. Estava pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei
o
aeroporto em direção ao portão de embarque trajando
sapatos sem meias, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao
oelho
(não exatamente limpas) e o pulôver gola "V", sem camisa. Mas caminhava
om
a dignidade de um lorde.
Embarquei no avião, onde todos os passageiros
estavam esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO" e atravessei todo o
corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que
sorria.
A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de
algo. Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para
isfarçar
o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas
decidi não pedir: "Nada, obrigado."
Eu só queria esquecer este dia de merda. Um dia de
merda...
Luis Fernando Veríssimo

Nenhum comentário: